terça-feira, 24 de julho de 2007

A sincera modéstia de quem está farto de levar no focinho

"... a guerra tinha-lhe ensinado a satisfazer-se com pouco e a habituar-se a tudo..."


Em: Morreram pela Pátria de Mikail Cholokov



Uma bela frase que incrivelmente prima pela sua simplicidade resumindo uma infinidade de cenários bem profundos, de um livro terrivelmente bem escrito em que se descrevem as façanhas do bravo exército vermelho em 1942, nas tisnadas estepes russas pelo Verão calcinante e pelas chamas da guerra. Porém o livro é um tudo nada propagandista. O que não me desgostou muito até porque é sempre diferente da desbaratada masturbação de ego que provem do país que bem conhecemos. E além disso não é demasiado notória, mas ela está lá! Não fala muito das ideias políticas comunistas, não as proclama como a salvação do mundo, mas estão lá umas frases tudo ou nada apologistas das mesmas. Basta ver que as personagens que seguimos com mais cuidado são: um mineiro, um agricultor e um agrónomo. Nem é preciso dizer mais nada pois não?
Seja como for é um bom livro de guerra, porém a dor e a miséria trazidas pela guerra são atenuadas e encobertas pela sede exacerbada de vingança! E não existe qualquer vestígio dos sentimentos, perspectivas ou outra coisa qualquer da Wehrmacht, apenas que estão que são bestas assassinas e invasoras e quando os russos chegarem ao coração da Alemanha é que eles vão sofrer como se não houvesse amanhã. Não é mentira de todo, antes pelo contrário, porque foi o que realmente aconteceu, porém os alemães foram humanos como os demais, e isso desgostou-me um pouco mas eu compreendo.
Mas, este pequeno livro não se ficou por aqui, sendo mesmo muito curioso que este tenha sido editado em 1965. Sim meus caros, em pelo antigo regime. Como é que a nossa implacável censura deixou escapar este!? Quanta gente não levou no focinho como gente grande para eu o jovialmente estar a ler neste momento... Dá que pensar...

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